Inquietas Leituras

terça-feira, 1 de agosto de 2017

DA PEDRA À PLUMA E O INESCAPÁVEL DESTINO DA POESIA

Resultado de imagem para Pedra pluma

Em seu primeiro livro, Notas das Horas, Paulo Franco explorou a palavra pedra como metáfora de um alicerce da abstração em que o concreto dos dias está assentado. “O Trem Comum”, “Instantes de Pedra” e “Túmulos de Paz” são poemas da obra de 1995 que traduzem a relação do eu com o cotidiano, pautada entre o mundo material e o almejar uma transcendência inalcançável, o ser que “empilha a pedra/ [e] desintegra a vida”.  

Passados vinte e dois anos, em A Rua Dos Dias o poeta volta à carga mais uma vez utilizando a antiga metáfora. Mas ao invés de assentá-la, joga-a para o alto, com o claro intuito de revisitar sua poética. E engana-se quem classificar tal movimento como subterfúgio de uma poesia em crise. O que se vê é a justaposição da imagem pedra a outras contrárias, e o resultado é uma obra que, mais uma vez, revela uma lírica comprometida consigo mesma sem se utilizar dos escapismos tão comuns. É uma poesia que, ao ser metalinguagem de si mesma, consegue transpor a pedra na qual se assentou.

“O Tecido” é um claro exemplo de uma poética que não naufraga em si, pois se constitui como arte que de si quer escapar, ao afirmar que metáforas como pedra “são exemplos típicos/ desta maquiagem que o poeta/ ensandecido proclama para cutucar/ o nosso olhar...” Porém, a pedra que ensandece é a mesma pedra com o qual “tecem-se os sonhos”.

“O Tempo e A Pedra” é o poema chave para se entender a trajetória da lírica de Paulo Franco. Vemos que o peso desta sina é transformado em material do próprio fazer poético. A pedra “é bem maior que o poeta”, mas é dela que se fazem as ondas, os sonhos, as dores, a eternidade e o canto que povoa esta poesia. É este o processo que a palavra executa: transformar o peso das coisas em leveza do olhar, mesmo povoado por “mar e icebergs”.

E é o memorialismo intimista que evoca a metamorfose da pedra à pluma, do menino ao homem que o investiga, da inconformidade com o presente ao saudosismo de uma infância assinalada como utopia perdida.

Em “As Cigarras e Os Girassóis”, o canto das cigarras é uma lembrança análoga ao canto dos entes queridos perdidos, das canções de ninar acalentadoras. Aqui o poeta demonstra o domínio da construção das metáforas que traduzem o peso de sua condição: “alma de vidro” “alma sólida” e “pitorescas alegorias” são justapostas às imagens da infância, que funcionam como ópio de um ser que, desperto no labirinto da vida adulta, se remete à leveza das “paredes de fumaça”, da “taipa da alma”, dos “campos de girassóis”. Enquanto que a vida o petrifica, pois “e meio menino, fui virando outra coisa”, a poesia faz o movimento contrário: se transforma num pathos alegórico capaz de o remeter à utopia sinestésica “meio a sons, cheiros e tons/ de uma intensa e infinita saudade”.

“O Tear” segue o mesmo fundamento na construção de imagens nostálgicas que se contrapõem ao fato de “que o futuro é sempre o porvir/ já que o presente o tece lentamente”. Com isso, quer o poeta a defender que o passado é o único elemento lúdico capaz de suavizar “o olhar, timidez de um mundo estranho”?

Não! Paulo Franco se destaca na poesia brasileira justamente por não delegar a si a tarefa de um escapismo romântico ou de pirotecnias formais. Sua abordagem é material e metafísica: sabe que o tecido da vida é o presente, “o instante é único o tempo inteiro,/ universal e inevitável”, entretanto pontua que nele é que se bordam as reminiscências sobre a construção do ser simultaneamente com o que “modelam  a espera pelos amanhãs/ que outros hojes virarão”.  

A preocupação com o dia seguinte coaduna com a obsessão pelo dia seguinte. “A Página”, “Flor Fora de Hora”, “O Arquipélago do Tempo”, entre outros, configuram-se dentro da obra como formas diferenciadas sobre o mesmo tema: o tempo presente caótico faz a poesia urgir naquilo que é a sua tarefa: ser retrato do que o humano foi e é, em sincronia com o que este poderá vir a ser. E eis onde mora a genialidade de todo poeta que leva sua arte a sério: a exploração de seu interior para que a poesia seja a antena a captar os anseios universais da raça humana.

Temas como Amor, Política, Família e Cotidiano também se fazem presentes, mas são pontuais na construção que A Rua Dos Dias faz da relação do indivíduo com o tempo que lhe foi dado para apreender e vivenciar estes elementos, na complexidade e singeleza com que tecem o efêmero absoluto, tópico central desta poesia.

Esta é uma obra riquíssima. Uma perfeita tradução do peso e da leveza da vida e do inescapável destino de uma poesia que faz da pedra de nossos dias “uma linguagem que acalme o coração”.

Reinaldo Melo é Mestre em Teoria da Literatura

 e Crítica Literária pela PUC-SP

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

A Conexão Francesa: o Tráfico e o Intransponível (Crítica)



Raramente o tráfico de drogas é abordado pelo cinema de forma que não desemboque na visão maniqueísta, criadora de uma nébula em torno da questão. A Conexão Francesa, em seu primeiro ato, aparenta ser uma película que se desenvolverá numa trama entre mocinho e bandido, e se sustenta por um bom tempo assim. No entanto, em suas idas e vindas, e também altos e baixos, a fórmula clichê da luta do bem contra o mal se desvanece e seu desfecho faz com que venha a somar com as poucas obras que abordaram tal problema fora do senso comum.

O filme narra a trajetória do juiz Pierre Michel (Jean Dujardin) contra o tráfico de drogas na Marselha dos anos 70. Após ser transferido do Juizado de Menores para o departamento de combate ao crime organizado, Pierre logo se vê num confronto metódico com o traficante e dono da cidade Tany Zampa ( Gilles Lellouche). Englobando os seis anos de uma luta obsessiva, são estes dois personagens a essência de uma história cujo tema central é o limite do poder que ambos imaginam possuir.


Numa atuação que resvala na sua carismática performance em O Artista, Dujardin constrói uma personagem concisa e coerente com as situações diversas e opostas pelas quais o juiz passa. Apesar de uma postura praticamente mansa, e pouco se vê gestos bruscos à altura da batalha em que se insere, o tom de decisão atrelado ao seu metodismo demonstra um Pierre capaz de usar todas as ferramentas do sistema judiciário, inclusive de forma ilegal, a fim de conseguir seus objetivos. A heroína dada a uma testemunha para que ela revele um fornecedor, o fazer um capanga pegar numa arma de forma involuntária para o incriminar por meio das digitais, a prática de grampos ilegais são atitudes que revelam uma obsessão incapaz de concretizar a fronteira entre a função de um juiz e o ato imoral e antiético.  Ao mesmo tempo, o mesmo homem que se demonstra irônico e sólido diante dos que o ameaçam é alguém capaz de retratar a solidão, ao canto de uma mesa vazia após um jantar de amigos, e o abandono ao chorar copiosamente.

Do outro lado, vemos o personagem de Lellouche tão sólido quanto o protagonista. Da mesma forma metódica, se utiliza de uma violência muito mais psicológica do que sanguínea, apelando para esta apenas quando não há mais saídas.  Zampa possui consciência do poder que tem, mas é por ter tal consciência que seus gestos possuem paradoxalmente elos com uma tradição civilizatória, narrada a um capanga desobediente antes de um castigo tortuoso. Só que mesmo o poderoso é capaz de demonstrar apreensão, tristeza e lágrimas.


É nesse paralelo que se revela a temática implícita do filme. Enquanto que o primeiro se utiliza das brechas da ilegalidade para fazer justiça, o outro usa da mesma inteligência para se utilizar da eficiência dos homens da lei para livrar-se de um estorvo. É a história de dois homens que, mesmos situados em lados opostos e com poderes correspondentes, se deparam com obstáculos, angústias, tristezas e limitações. Em festas que promovem, seja a comemoração da promoção, o aniversário de casamento, a aposentadoria do amigo ou a derrota de um adversário, ambos demonstram uma áurea vigorosa, de sentimento de invencibilidade. E em seus dramas familiares, os personagens revelam as fragilidades inerentes à condição humana. Porém, não se cai numa humanização piegas, ambos estão submetidos a uma mesma estrutura social. Na cena em que eles se encontram, a acusação de causar mortes por conta do tráfico é replicada com a justificativa de criar empregos, mas no fim do diálogo há um contra plongée em que ambos estão sob o mesmo sol, uma metáfora de que não são tão diferentes como pensam.

A construção dos ambientes exibe uma direção de arte eficiente que potencializa a situação em que as personagens se encontram, seja no detalhe de um interruptor desgastado combinando com o desespero de Pierre ao se deparar com sua impotência ou nos vasos ornamentais a serem quebrados a revelar a encruzilhada em que se encontra o traficante. A fotografia também é utilizada em muitos planos com o objetivo de auxiliar a narrativa: o departamento de polícia quase escuro, iluminado praticamente por luz natural, constrói o sentimento de sua precariedade material e humana; a iluminação da discoteca, propriedade de  Zampa, com uma paleta quase que invariavelmente vermelha, já nos adianta o derramamento de sangue que está por vir. Destaque para os travelling circulares constantemente usados a fim de captar a condição psicológica das personagens inseridas em situações de deslocamento e confusão. 

No entanto, o filme possui seus problemas técnicos, nas cenas de ações, a montagem não funciona, o diretor Cédric Jimenez parece inseguro em se utilizar de planos sequências, pois estes são interrompidos por cortes abruptos, em que muitas vezes o espectador se desorienta. Em outros momentos, executa de forma desnecessária e até redundante o mesmo estilo de Scorsese em que a narração de um personagem a explicar o esquema do tráfico é acompanhada de planos curtos dinamizados que não possuem em nenhum momento o efeito estético do qual o hollywoodiano é capaz. E do segundo para o terceiro ato, após reviravoltas magistrais, Jimenez insiste em mostrar ao espectador a condição de altos e baixos dos personagens, mas estas variações distanciadas não chegam a prejudicar o desenrolar do desfecho da narrativa.


Assim como Traffic, A Conexão Francesa não é demagógico, muito menos trata o problema com a superficialidade, por exemplo, do documentário Quebrando o Tabu. Numa época em que a discussão sobre a legalização ou não de drogas ilícitas ocupam cada vez mais os espaços de debates públicos e midiáticos, o filme francês não propõe nenhuma solução, muito menos nos faz chegar a alguma conclusão. A qualidade do filme reside na constatação de um sistema que se caracteriza um tanto que sobre-humano, que sobrepuja qualquer força que o toca, seja a lei ou o poder daquele que o sustenta. 

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Análise (Review) do Episódio 01 de The Night Of. (SPOILERS)


A violência no âmago de nossa sociedade é tema frequente da arte audiovisual. O cinema frequentemente aborda o tema, mas, em muitas vezes, não se aprofunda ou por conta das amarras de conseguir uma boa bilheteria, agradando um público não exigente,  ou pelo próprio limite do tempo. Já a TV aparece como meio mais propício ao aprofundamento e à ousadia na análise dos mecanismos de barbáries que nos rondam. 

Em sua estreia, The Night Of, série da HBO, demonstra ter potencial de permanecer ao lado de grandes séries como The Wire, True Detective, Twin Peaks e afins. 

A história gira em torno do paquistanês Nasir Khan, vulgo Naz, (Riz Ahmed), que, numa noite, ao pegar o táxi de seu pai para ir a uma festa de amigos, se vê como condutor de Andrea (Sofia Black D'elia). E o que poderia ser um encontro casual, de prazeres efêmeros ou não, se transforma numa tragédia que levará Naz a uma situação catastrófica. 

O primeiro episódio já se inicia na construção da personagem de Naz, demonstrando-o como um jovem deslocado da sociedade em que vive, como vemos neste plano aberto. O marrom que dá uma sensação de segurança contrasta com o isolamento da personagem:


Seu deslocamento também se demonstra nos planos fechados do jantar em família, quando Naz informa que irá a festas de amigos negros, o que já adianta que a série abordará a questão de imigrantes e outras "minorias". Nota-se a camisa xadrez de Naz, o que se pode entender como alegoria de seu destino de presidiário:


Logo após, mais um plano que impetra a relação de Naz com as grades. Mas aqui está à espera do amigo, então, se encontra fora delas.


Ao receber a notícia de que o amigo não viria, Naz volta à casa para pegar as chaves do táxi do pai. E aqui outro plano na construção da trajetória de Naz rumo à prisão, já que enquadrado dentro das estruturas verticais e horizontais dos elementos:



O aparecimento abrupto de Andrea, ao entrar no carro, dá início a uma sequência invasiva. No entanto, está ela em sua primeira aparição coberta parcialmente de uma névoa vermelha, o que conota um destino mais horrível do que o de Naz:


A partir daqui, a narrativa se utiliza da posição dos personagens em seus plano como elementos na construção da narrativa. Andrea está na parte de trás do carro, como passageira de Naz, não fazendo parte ainda do mundo do jovem.

Mas ela inicia sua invasão a partir de gestos sutis, como o abrir a janela que liga seu espaço com o de Naz.


Nesse intermeio, o pedido para se matar a sede. Naz se demonstra um garoto certo, de boa vontade, enquanto que Andrea já aparece como uma pessoa que não se adequa a padrões éticos e morais.


O diretor Steven Zaillian brinca com os espectadores, que, em sua maioria, achariam que a água era para ela e a cerveja para Naz. Nestes planos, a metáfora da oposição do mundo dos dois aparece nas mãos do jovem.


A bebida alcoólica, símbolo da união entre opostos, dá início ao elo entre os dois. 



A partir daí, Andrea vai ocupando cada vez mais o espaço pertencente a Naz. O movimento de debruçar-se na janela demonstra que cada vez mais ela se sente à vontade, o que dá início à abertura da intimidade. 



Na ponte, o diálogo se estabelece. Relações familiares, sentir-se bem com a companhia um do outro e obrigações da existência. No plano fechado a Nazir, as luzes desfocadas dão forma a um mosaico, o que sugere que o jovem até ali possui múltiplas possibilidades à sua frente, ao mesmo tempo que sugere o bem estar ao lado de Andrea. 



No caso dela, apenas duas luzes monocromáticas atrás de si, sugerindo o não futuro, e o tédio que sente nos diversos gestos que executa até ali.


Elo estabelecido, agora Andrea segue no banco ao lado de Nazir, não é mera passageira mais a ser conduzida. Juntamente se direcionam ao destino macabro. No entanto, há ainda em Nazir a existência de um mundo vivo, simbolizado nas cores que se refletem no vidros do carro, contrastando com o olhar animado, direcionado à frente.






Já em Andrea, o mesmo padrão das cores já vistas em seu plano na cena da ponte, tendo o olhar vago para o lado, sugerindo novamente oposição a Naz e não tendo nada a ser visto em seu horizonte. 



Em muitas culturas o cervo é um animal cujo símbolo denota ao renascimento, ao nascer de um novo dia. Seus chifres são considerados réplicas da Árvore da Vida. E neste plano, já no interior da casa de Andrea, a Direção de Arte constrói uma ironia, ao colocar ao lado da cabeça do animal morto o padrão de cores antes sobrepostos em Naz. E sua imagem no espelho, ao lado esquerdo e invertida, é uma prévia da tragédia que está por vir.



Em outros planos do espaço de Andrea, uma mistura entre o vermelho que a cobre com o colorido ligado a Naz, tendo o marrom como cor que equilibra e conforta a oposição entre os dois. Destaque para o rosa, causando o efeito do romantismo e ternura, tentando se sobrepujar ao vermelho. No entanto, rima com a condição de deslocamento que Naz sente:




Tal deslocamento também é demonstrado na presença do gato, que lhe pode desencadear uma crise de asma. A ação de Andrea de em colocar o animal para fora é a aceitação de Naz em seu espaço. O marrom da parede rima com o marrom da arquibancada do plano inicial onde Naz se encontra. 



Neste plano fechado, o conjunto de cores a criar uma divisa entre o mundo dos dois. O foco em Andrea, circundada por tons marrons, vermelhos e rosas, e Naz, desfocado, sem que os últimos dois tons o cubram. 



Mas já no cenário da tragédia, eis que Naz, ainda sem saber, se mostra imerso no vermelho e rosa. A não dissociação das divisas das cores significa ainda que o rapaz possui o sentimento de ternura e ingenuidade no espaço em que se encontra.




Ao elucidar-se do ocorrido, as cores se desassociam. Note-se o sangue no abajur a apontar para fora do plano, remetendo ao corpo de Andrea, fazendo com que o espectador saiba o que ocorreu, mas tendo mais que focar na reação e expressão de Naz.


E sua reação faz as cores se associarem novamente, representado o misto de desespero, confusão com os sentimentos anteriores ao fato, mas que na cena fatal demonstram realmente o que esperava por Naz. Aqui novamente a paleta com marrom, vermelho e rosa.



Tentando fugir do local, mas pego por acaso pela polícia, que ainda não sabe do crime, Naz deixa de ser condutor para ser conduzido. Agora é sua vez de estar fechado na parte de trás da viatura. Mas ao contrário de Andrea, cujo um vidro a separava, denotando transparência e liberdade, Naz se encontra na situação de preso, atrás das grades. Destaque para as cores no canto superior direito, como se estivessem distanciando de Naz, se contrapondo às luzes de emergência no teto do carro policial, que rimam com as luzes sobre Naz no plano da Ponte. Uma cena que simboliza qual será o futuro do jovem.




Na aparição de John Stone (John Turturro), os planos alternados se sucedem, demonstrando que tanto Naz quanto Jack estão presos e submetidos a um mundo que lhes oprime. Vale destacar a fotografia agora neste ato, sendo predominante a presença de cores frias e neutras.





Antes de decidir voltar à delegacia a fim de prestar seus serviços a Naz, um sinal de que Stone entrará no mundo do jovem, as cores desfocadas e distantes no lado direito do plano. Simbolizam talvez ainda a esperança de volta do jovem ao seu mundo e a personalidade vibrante da personagem de John. Ou talvez que este também se encontrará numa situação complexa e absurda (sem volta?) ao se inserir no mundo do jovem. 



E neste plano, rimando com o plano da troca de olhares, até por conta do mistério que ronda a morte de Andrea (Naz a matou ou não?), o reforço de que John, ao se colocar como protagonista em defesa do jovem, pode entrar numa condição de prisioneiro juntamente com o jovem, já que a situação é praticamente incontornável.



E para fechar o episódio o plano na vertical a simbolizar o sentimento de confusão e conflito do pai, mais o reaparecimento do gato a atravessar a tela num movimento de liberdade e segurança, constratando com a verticalidade do pai, uma sutil ironia sobre a situação de Naz, agora prisioneiro.




quinta-feira, 7 de julho de 2016

Procurando Dory e a Moral Inclusiva Que Queríamos Ter

As animações se tornaram um gênero de cinema a ocupar constantemente espaços cada vez maiores nas salas do mundo todo. Se por um lado demonstram que ganharam um respeito à altura das grandes produções, por outro correm o risco de banalizarem personagens e temáticas por meio de abordagens supérfluas e até forçadas, ainda mais quando se tratam de continuações.


A Pixar errou feio em Carros 2, desperdiçando o potencial das duas personagens principais, McQueen e Mate, e em Procurando Dory poderia cair no mesmo risco ao não aproveitar o caráter cativante e complexo da personagem.



E quase conseguiu no desenvolvimento do primeiro ato do filme, que se acelera rapidamente sem explicar de forma convincente um motivo plausível de sua repentina memória sobre seus pais. No entanto, é no decorrer do filme que se torna coerente os motivos de sua lembrança e jornada, não apenas por meio de suas ações, mas por meio do conjunto de personagens a colaborarem com Dory, Marlin e Nemo. Personagens cujas imperfeições trouxeram-nos a condições de deslocamento e até marginalidade em seu meio social.  E é nisto que Procurando Dory se demonstra como uma animação à altura de Procurando Nemo. Enquanto que neste duas histórias eram contadas paralelamente, a jornada em busca de Nemo e o aprendizado de Marlin sobre seus traumas que limitavam seu filho, naquele temos três, a procura de Marlin e Nemo por Dory, a jornada desta em busca dos pais e o encontro e autoconhecimento dela e de outros personagens.

 

Procurando Dory é um filme sobre inclusão, um tema cada vez mais caro à nossa sociedade e tratado constantemente de forma hipócrita. Este tratamento é construído por meio da metáfora da correnteza, uma correnteza de indiferença a qual leva Dory a ser excluída de seu lar. A solidão da personagem é reforçada pela construção de planos escuros por onde a personagem ainda na infância e adolescência perambula à procura de casa, mas recebe um tratamento de desprezo de diversos peixes por causa de sua deficiência, a perda de memória recente. E mesmo depois em planos claros, após um ano do primeiro filme, por conta disso, ela ainda é excluída de participar, por exemplo, de passeios. E é num momento de exclusão que ela é levada pela correnteza e desaparece.



Discriminação, não aceitação, luta por inclusão, deslocamento são elementos da narrativas incorporadas nas personagens que habitam um centro de reabilitação e que ajudam a construir a trama. Temos Destiny, uma baleia míope,  Bailey, uma baleia branca que perde sua capacidade de ecolocalização, Hank, um polvo antissocial que não quer voltar para a vida marítima, mas viver isolado dentro de um aquário, Becky, uma mobelha autista, e Fluke e Redder, leões marinhos a hostilizarem Gerald, da mesma espécie, mas que não se enquadra no padrão daqueles dois.


E é através da relação de Dory com o polvo Hank que se centralizam os elementos conflituosos. Primeiramente para com o contraste entre azul de Dory e o vermelho de Hank, no entanto, há uma demonstração clara de que sua condição de Ictiofobia (o mesmo que misantropia para nós) não é definitiva, pois é por meio de suas mudanças de cores que se demonstra o potencial multifacetado do polvo, que pode possibilitá-lo a conviver com os diferentes. Ao mesmo tempo, Dory o interpela por sua mania de culpar os peixes deficientes pelos sofrimentos que passam. Como alguém com três corações perde a capacidade de usar pelo menos um? Como se pode querer não ter contato com ninguém no mundo?



A humanização em torno dos conflitos se dá pelo elemento do toque, personagens se abraçam, se carregam em atos de recíproca ajuda, a nos mostrar que todos dentro de qualquer contexto social possuem interdependência e qualquer desencontro ou afastamento pode pôr todo um objetivo comum em perigo.



Porém, não se demonstram pieguices convenientes. Ao mesmo tempo em que coloca a importância da conexão e interdependência, repete, de outra forma, a mensagem do primeiro filme: a necessidade de confiar na capacidade do outro de solucionar questões que só a ele pertencem (aqui faço um ressalto do curta-metragem Piper, que antecede ao filme). O lema Resgate, Reabilitação e Retorno rima com a correnteza inicial, a mesma correnteza que separa é a que é capaz de unir, uma imagem de que a vida não segue um roteiro previsível. É diante das diversidades imprevisíveis que se é possível a humanização, é por meio da marcha-ré, muitas vezes necessária, que se pode superar as agruras, como bem demonstra o último ato do filme.



Procurando Dory é um filme que demonstra a moral que queríamos ter, uma sociedade inclusiva, de compreensão, com a predisposição de ver que qualquer indivíduo, com cada incapacidade que possui, é capaz de conquistar confiança e demonstrar que está mais próximos dos seres humanos “normais”, “ sem deficiências”, do que se imagina. Mais uma vez o cinema demonstra capacidade de ser uma arte capaz de educar e projetar uma humanidade futura em que inclusão não seja uma palavra enunciada como exceção e urgência, mas uma palavra desaparecida, pois, nesse futuro, longe de existir, o desaparecimento da exclusão possibilitará o não pronunciamento da necessidade de incluir.


Há uma cena importante depois dos créditos que possibilita a feitura de um terceiro filme.


Reinaldo Melo é poeta, professor de literatura e tenta ser crítico de cinema, consciente de suas deficiências. 

sábado, 14 de fevereiro de 2015

A Realidade da Sala de Aula


Nestes oito anos de magistério que possuo, não presenciei tanta coisa como meus colegas mais experientes, mas já participei, nas escolas em que trabalhei, de oito palestras com professores acadêmicos e escritores, pensadores da educação.
Resumindo todas, não passaram de palestras motivacionais cuja mensagem era a de que aos professores bastava a boa vontade e perseverança para que a sala de aula se transformasse num paraíso.
Não sei como essas pessoas podem ser levadas a sério por professores, muito menos entendo por que se cometem crimes ambientais para editar os livros que essa gente escreve.
Quando se fala em sala de aula, qual é a teoria empírica que abrange a totalidade dessa realidade? Tempo, espaço e objetos em sala de aula são termos corriqueiros na teorias de hoje. Porém, como se ter a audácia de definir algo que é indefinível por si próprio? Tempo, espaço e objeto são elementos simbólicos e concretos fabricados, utilizados e compreendidos pela mente humana, ou seja, estou a falar de seres humanos, totalmente indefiníveis.

Qual a teoria que abrange a totalidade dessa realidade?

Muitos professores aqui já tiveram quatro, cinco salas de uma mesma série e todas elas eram diferentes, o que exigia a complexa tarefa de um ser humano limitado, como o é o professor, se multiplicar em vários professores, já que cada sala exigia uma postura diferente.
No entanto, não termina aí. Cada sala dessa tem, no mínimo, oito professores e cada um deles é um ser complexo e indefinível. Portanto, a sala de aula se multiplicará, tendo estes números por base, ao menos em oito realidades. Pois se cada professor é um indivíduo com suas experiências, ideologias, personalidades, únicas, certamente a sala de aula terá uma recepção diferenciada para cada professor.
Mas ainda não termina por aí. Sabemos que o ser humano não segue um padrão de comportamento constante quando está num meio social múltiplo, simplificando, há dias em que temos uma postura diferenciada, professores e alunos mudam constantemente, o que faz com que a realidade numa sala de aula seja um universo infinito.
Nisto é que se dão os altos e baixos durante o ano letivo, o que é praticamente normal.
Entretanto, não termina aqui. A sala de aula é um universo infinito composto por outros vários universos, os alunos. Universos que fabricam outros universos, pois as relações que cada um tem com os outros são um mosaico infinitamente complexo e difícil de ser totalizado por qualquer área específica.
Isto, nenhum teórico foi nem será capaz de definir. Nem, com toda petulância acadêmica, será capaz de formular uma teoria didática que dê conta dessa infinidade de universos.

Um mosaico complexo e infinito
Defendo então que os professores se acomodem porque é assim mesmo e a realidade na sala de aula é realmente difícil? Pelo contrário, é esta consciência em relação à complexidade da sala de aula que faz com que devemos dar o melhor de nós em nosso dia-a-dia. Porém sem ilusão, pois a ilusão pode ser fonte de decepções e adoecimentos gratuitos.
É esta consciência que faz com que não possamos encarar o corpo discente como um corpo. O professor consciente não tratará seus alunos como uma massa que precisa ser moldada. O professor sério e consciente sabe do que é capaz e do que não é, ele sabe o que pode oferecer e o que não pode para cada um dos seus alunos.
A massificação é a base desses teóricos patéticos que se sustentam com o dinheiro público que financia estudos inúteis para os professores e para a complexidade da sala de aula.
Massificação refletida nestas metas de avaliação, como, por exemplo, as do governo de SP. O IDESP trata os alunos como uma massa para a irrelevante fabricação de números, mas eu quero que se danem esses números.
A escola deve focar o indivíduo e não  a massa
Mariazinha, a mudinha da sala, por conta de opressões em casa, tem medo de falar em público. Meta para essa aluna para o ano letivo: dizer bom dia a todos na escola, de forma natural.
Meta para Joãozinho, aquele que não abre o caderno e só dorme: fazê-lo sair de sua inércia, não com gramaticalidades ou fórmulas matemáticas, mas através de tarefas múltiplas, que ele saiba que ele é um ser que pode transformar tudo e a sua atitude exerce influência no meio social em que vive e influência nele mesmo.
Pedrinho, o CDF da sala: entender e sistematizar a teoria da relatividade de Einstein.
Posso estar sendo patético, mas acredito que a transformação da educação não passa pelo tratamento massificado que os alunos e nós, professores, recebemos. Enquanto não se focar o indivíduo, toda a discussão teórica em torno da educação é mera parafernália.


sábado, 11 de outubro de 2014

Democracias Secas

São Paulo secou-se. O que antes era um estado com viés progressista, onde a ideia de uma multiculturalidade era a amarra com o mundo contemporâneo, tornou-se um lugar em que o totalitarismo quase que monocrático nega a própria visão que o paulista tem de si.

A Semana da Arte Moderna, ocorrida em 1922, foi um grande passo dado rumo à modernização artística, econômica e  cultural do Brasil. Abriram-se as janelas para que se desenvolvesse uma visão de país fora da óticas das oligarquias rurais e da intelectualidade aristocrática, que produzia um pensamento que não coadunava com a nova sociedade que surgia.  



A Semana de 22 foi movimento chave
para SP se colocar como condutor do Brasil


Dentro do movimento, porém, havia um racha: de um lado, os escritores, como Oswald de Andrade, que defendiam uma Literatura que retratasse o Brasil literalmente, "como falamos, como somos"; do outro, artistas que defendiam uma postura nacionalista e xenofóbica cuja arte deveria retratar as glórias da pátria. 

Muitos acadêmicos criticam a superestimação da Semana de 22, afirmando que o culto que se faz dela está muito mais ligado à visão de São Paulo como protagonista do desenvolvimento nacional, o bairrismo peculiar que o  estado tem, do que à suposta importância para o desenvolvimento das artes, visto que indícios de modernidade já eram encontrados em obras anteriores. Não é à toa que a parte patriótica e xenofóbica do movimento de 22 participará do Integralismo, que possui como um dos princípios a abolição de "Estados dentro do Estado" e de "partidos políticos fracionando a Nação". 

O romance de 30 foi um foco de resistência a esse bairrismo. Escritores dos estados fora do eixo São Paulo/Rio de Janeiro construíram obras sobre um país que parte dos escritores da semana queriam esconder: o Brasil da miséria, da fome, da seca. Graciliano Ramos, injustamente rotulado de regionalista, compôs em Vidas Secas um mosaico pleno das agruras do sertão e de seus habitantes.

Mais de setenta anos depois e o estado de São Paulo, afora de não ter aprendido a lição de que há vários Brasis além da parte que ele ocupa, vive uma situação idêntica a dos personagens do escritor alagoano, condicionados pela ignorância e pela seca.

Nesta ano foi noticiada a queda do já então pífio ensino médio paulista. 40% dos alunos saem da escola com aprendizado insuficiente em Língua Portuguesa. Quase 60% não possuem conhecimento adequado em Matemática. Esses índices demonstram que São Paulo vem construindo uma população impossibilitada de ler gráficos, fazer cálculos ou interpretar índices e estatísticas e, ao mesmo tempo, incapaz de ler e entender textos. Uma fórmula magnífica para manter uma população mal informada, alienada de qualquer processo social, acrítica, uma massa de Fabianos a repetirem o mantra: "Governo é Governo". 

Concomitantemente, o estado se deparou com uma crise hídrica. A iminente falta de água, que o governo diz ser consequência pela falta de chuvas, mas, na verdade, é em decorrência da privatização da SABESP e de falta de investimentos de manutenção e de captação de água, foi assunto totalmente explorado nas eleições. Há uma crise de proporções humanitárias vindo, mas maioria do povo paulista sequer quis se aprofundar no assunto e como "Governo é Governo", então o governador estava certo em suas premissas e mereceu a reeleição.



A Privatização da água em SP é uma das causas
de sua crise hídrica


O estado que sempre se colocou como a locomotiva do país, o mais desenvolvido, industrializado e racional, sempre se comparando com o Norte/Nordeste, pontuando estas regiões como o retrato do atraso, sofre hoje das mesmas mazelas que um dia se orgulhou de não as ter: índice pífio de educação, falta de água e adoração por oligarquias solidificadas no poder.

Estima-se que a população de nordestinos de São Paulo gire em torno de 20%. Por conta da migração nordestina ocorrida a partir da industrialização na década de 50, pode-se afirmar que o povo nordestino contribuiu e muito para com o crescimento econômico do estado mais rico do país. Mas não apenas economicamente, já que as relações de povos não se fazem de forma monotemática. Houve também a contribuição cultural: artística, culinária, musical, etc. O Nordeste está em São Paulo e São Paulo está no Nordeste. Não é à toa que a capital do estado é chamada de maior cidade nordestina do Brasil. 

HItler dizia que "Temos de matar o judeu dentro de nós". Há nessa fala dois pontos curiosos: o de que o judeu tem um espectro a invadir a identidade alemã e lhe dominar e de que o nazista se sentia parte ou originado do mundo judaico. 

A ignorância é a base para o nazifascismo se instalar. E em decorrência à baixa formação educacional da população do Estado de São Paulo, atrelada à ideologia fascista do integralismo, assistimos na última semana a uma mostra de afirmações antidemocráticas (e por que não nazifascistas?) advindas de parte povo paulista. 




Afirmações nazifascistas de paulistas na Net


Propostas como construir um muro separando Norte/Nordeste do resto do Brasil (não é mera coincidência com os muros que separavam os guetos judeus da população alemã), causar um holocausto ou jogar uma bomba atômica foram algumas das diversas pérolas de ódio destinadas a uma população que votou em maioria no partido oposto ao do governo do Estado de São Paulo.



Proposta idêntica ao guetos para judeus
na Alemanha Nazista


Celso Furtado sempre denunciou as diferenças entre o Sudeste e o Nordeste, afirmando que a industrialização daquela região criaria o atraso desta, e criou, no governo Juscelino Kubitschek a Sudene, órgão que ajudou na modernização nordestina. Mas tal politica foi abortada no regime militar, mantendo-se o Nordeste nos índices de subdesenvolvimento. 

Ao contrário de São Paulo, que agora possui mazelas de regiões subdesenvolvidas, parte do Nordeste vem acumulando benefícios por conta de uma política desenvolvimentista.  Entre 2002 e 2010, o PIB do Nordeste passou de R$ 190 bilhões para R$ 500 bilhões. O número de universitários praticamente dobrou nos últimos dez anos, da base de 4 milhões para 7,5 milhões. Em 2000, eram 4,3 milhões de trabalhadores nordestinos com carteira assinada. Hoje, ultrapassa a ordem de 13 milhões. Fora o fato da ONU estabelecer que o Brasil saiu da lista dos países com problemas com a fome, por conta da assistência que se dá aos habitantes miseráveis da região.



Celso Furtado:o grande idealizador do
desenvolvimento no Nordeste

Como então julgar como burro e analfabeto um povo que predominantemente vota a favor de uma política que vem favorecendo a sua região? Não seria burrice e analfabetismo funcional e político votar a favor de um governo que vem patrocinando agruras como: o desmonte da educação básica, fundamental, média e superior do estado; a falta de investimento em captação de água, o que pode causar danos à saúde, ao comércio e à produção industrial; a matança de centenas de pessoas na baixada santista desde 2006, onde grupos de extermínio ligados a forças repressoras do estado declararam guerra às populações das periferias desta região?

Essa onda de ódio talvez seja um hitlerismo às avessas, enquanto que o austríaco defenderia matar o nordestino que está dentro dos paulistas, o povo de São Paulo quer matar o mito paulista que hoje o próprio paulista vê nos nordestinos, já que estes colhem números proporcionais aos da época do desenvolvimento paulista. Só essa inversão psicológica é base para explicar tamanho recalque.

E como cereja no bolo de tanto ódio e preconceito, até um ex-presidente da república faz coro com a turba nazifascista ao afirmar que o voto no governo atual é por falta de informação dos habitantes dos grotões do país. É de salientar o fato repugnante de um ex-presidente da república desconhecer  o próprio país que chegou a governar, chamando todo uma região de grotão e desmerecendo o processo democrático que um dia o fez chegar na cadeira de chefe de estado. Mas tal opinião é compreensível, já que o mesmo ex-presidente tem seu reduto, justamente, em São Paulo.


Fernando Henrique Cardoso: Ex-presidente e
acadêmico que desconhece o país


A História mostra que os grandes impérios caíram por não se darem conta da realidade em que viviam. Roma mesmo adotou para si a imagem que não tinha diante dos próprios povos  que dominava, subestimando estes, que um dia viriam eles mesmos a derrubá-la. O Terceiro Reich, de Hitler, idem. Superestimou sua capacidade bélica. Não é de surpreender que quando Hitler se viu derrotado, uma das primeiras medidas foi destruir o suprimento de água do povo alemão, já que este não era superior a ponto de vencer uma guerra.

Talvez parte do povo paulista sinta hoje um narcisismo ás avessas. Não podendo ou não querendo ver a si mesmo, sentindo conscientemente ou inconscientemente que seu apogeu como protagonismo de desenvolvimento sucumbiu a uma nova lógica em que o capital não possui mais pátria ou regiões definidas, sente-se mais confortável a apontar para o suposto atraso dos outros quando na verdade é o seu próprio atraso que deveria estar em debate. Mas o que esperar de um povo que, em maioria, nunca quis ver o que há lá fora, para além das janelas do integralismo, não se preocupa com sua educação, não se preocupa com sua harmonia social, não se preocupa nem ao menos com um elemento vital para a vida: a água? 

Não é à toa que em São Paulo se vive uma seca de democracia.